Nem preciso dizer que a palestra de Alber Elbaz no Vogue Festival era a que eu mais esperava. E não me decepcionei: do começo ao fim, ele se mostrou simples e genial. Alber nasceu e foi criado com muita simplicidade e pouco dinheiro, grande parte em Tel Aviv: “Você não sonha, apenas pensa” disse logo no começo sobre sua condição financeira na infância. Ali já deu para perceber que sua criação explica muito do seu talento para criar sonhos.
A conversa foi guiada o tempo todo pela editora da Vogue UK, Alexandra Shulman, que fazia as perguntas. No final, a plateia também podia perguntar (foi assim em todas as apresentações). Antes de entrar no palco, teve um vídeo da nova campanha da Lanvin e Elbaz aparece em uma tela no canto, comentando – cheio de graça – a campanha e diz que não conseguiu voo de NY para Londres e que não pôde estar no evento. Gelei! Mas era tudo brincadeira: logo em seguida ele entrou no palco.
Elbaz falou de tudo, inclusive até de algumas das sessões com sua terapeuta. Arrancou muitas risadas da plateia e se mostrou uma pessoa com uma empatia tão grande quanto seu talento. Disse que não tem twitter, e-mail, celular, nem motorista. Seu escritório é onde coloca sua bolsa, ou seja, qualquer lugar. E acha que essa era que vivemos onde a comunicação e a conexão são tão presentes, faz com que nos isolamos mais, que no final estamos nos comunicando pessoalmente cada vez menos. E deu um exemplo: “Antigamente, a maioria dos meus amigos iam até a África para se inspirarem. Hoje eles googlam sobre a África.”
Esse comentário foi uma graça que Elbaz fez para – agora estilista – Victoria Beckham quando a encontrou em um evento logo após o desfile que comemorou seus 10 anos na Lanvin onde ele cantou Que sera, sera de Doris Gray no final da apresentação “Foi terrível”.
Quando o assunto foi cópia – pergunta vinda da plateia – Elbaz simplesmente não gosta: “Você sabe… trabalha horas e horas, semanas e semanas, quebra a cabeça…” Tanto que um dos motivos para fazer a parceria com a H&M foi a oportunidade de ter o estilo da Lanvin mais acessível e assim, evitar a cópia. A coleção, lançada em novembro de 2010, foi mais do que aguardada: teve filas quilométricas em frente às lojas no lançamento e se esgotou em poucas horas.
Uma das pessoas da plateia também perguntou sobre seus famosos desenhos: “Eu não gosto de fotografar, gosto de rabiscar.” Mas segundo ele, a ideia de ter seus desenhos estampando diversas peças e itens (a papelaria da Lanvin é incrível!) é da equipe de marketing, que simplesmente pede para ele fazer alguns para produzir as peças.
Elbaz também falou do quanto é contraditório:
E continuou: “Gosto dos restaurantes finos mas prefiro o sabor do McDonald`s”.
Encerrou dizendo:
Deve ser isso que diferencia os gênios criativos dos mortais.
Sobre Alber Elbaz: nascido em 1962 no Marrocos, passou toda a infância e parte da adolescência em Tel- Aviv, Israel. Foi soldado por 3 anos – muito comum em Israel e em 85, foi para Nova York. Lá começou desenhando vestidos de noiva. Em seguida, trabalhou 7 anos com o estilista Geoffrey Beene. A virada veio em 97 quando foi contratado pela Guy Larouche, que precisava de alguém para renovar a imagem da maison francesa. Mas apenas um ano depois, aceitou o convite para ser diretor criativo da parte feminina da YSL. Ficou lá por 3 anos e era para ter sido o substituto de Yves Saint Laurent, mas isso não aconteceu: foi despedido assim que a grife foi comprada pelo Grupo Gucci. De lá foi trabalhar na grife Krizia, na Itália. Em 2001 foi contratato pela Lanvin que tinha acabado de ser comprada por um magnata de Taiwan. Lá encontrou seu lugar. Em 2007, foi eleito pela Times Magazine uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. São marcas registradas de seu trabalho os enormes laços, as cores fortes e o estilo ultra feminino e um quê dramático das peças. Sua última coleção teve gargantilhas com palavras como “love” e “hate” que foram mais do que comentadas. Elbaz disse que escolheu essas palavras porque simplesmente gosta delas.